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terça-feira, 15 de setembro de 2009

O CÓDIGO DO VESTIR



Eco declara que o vestuário é uma singular forma de comunicação e, embora sendo útil, principalmente, para cobertura corporal, "o que serve para cobrir (para proteger do calor ou do frio e para ocultar a nudez que a opinião pública considera vergonhosa) não supera os cinqüenta por cento do conjunto"(Eco 1989:7).
Tudo o mais, faz parte de uma mensagem simbólica, sobre o que somos ou pensamos, lançada a todos os que nos percebem. Mesmo vestidos da cabeça aos pés, o uso de roupas pode nos tornar perigosamente transparentes. Dessa maneira, o vestuário reflete os valores predominantes em determinada sociedade e, sob esse aspecto, pode ser considerado uma linguagem, cuja significação é compartilhada por uma cultura.
Expressando o modo de pensar dominante e os costumes de um tempo histórico, como signo coletivo de seus valores, as constantes transformações que sofre a moda são determinadas por reestruturações e reavaliações de padrões sociais.
Portanto, de certa forma o corpo encontra-se mergulhado em uma trama de relações de poder social e político que o dirigem e sujeitam, exigindo trabalhos e atitudes. Apesar disso, a partir do estudo dessas formas de dominação política, social e, mesmo, sexual ou ideológica, podemos encontrar o corpo lúdico, prazeroso, campo do desejo e da sedução, um espaço a ser interrogado em seus múltiplos significados e simbolizações.
Hoje o corpo é construído e modelado para causar admiração e ser cultuado. Prega-se, em função disso, liberdade total em relação a ele. A beleza e o erotismo passam a ter grande importância e a sexualidade determina o seu uso e gozo, tudo reduzindo a um valor de permuta.
Essa liberação do erótico, produzindo o mito de um corpo imortal e belo, prazerosamente consumido sem sofrer qualquer desgaste, pode re-enquadrar dentro das devidas proporções muitas das radicalizadas interdições medievais.
Mas é possível, por outro lado, que caminhe para uma vulgarização consumista, destruindo, talvez, parte da sedução ancestral que, por milênios, levou homens e mulheres a buscar formas de ornamentar e cobrir a pele. Ainda que, se por outro motivo não fosse, pretendessem vestir o corpo apenas em nome da expectativa e do prazer de exibi-lo em ocasião propícia...
MIRIAM COSTA MANSO MENDONÇA
Doutora em Ciências Sociais - Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA-USP; Especialista em Arte-Educação pela UFG; Professora dos cursos de Graduação em Design de Moda e Mestrado em Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás; Vice-Diretora de FAV/UFG e Coordenadora do Curso de Design de Moda da FAV/UFG.

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